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Sindicato notifica Record e pede explicações após helicóptero ser alvo de tiros pela 2ª vez

Record é alvo de críticas após helicóptero ser baleado no Rio; sindicato cobra segurança nas coberturas em áreas de risco


Montagem com Tino Junior e o helicóptero da Record Rio baleado
Tino Junior é apresentador do Balanço Geral Rio - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Sandro Nascimento

Publicado em 13/06/2025 às 04:44,
atualizado em 13/06/2025 às 10:55

Na disputa por audiência com a Globo, a Record Rio tem apostado em imagens de violência em áreas dominadas pelo tráfico e pela milícia, utilizando helicópteros e motolinks. A estratégia tem surtido efeito no Ibope, mas na última semana, um de seus helicópteros foi alvejado com 200 tiros. Diante do ocorrido, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro notificou a emissora na última terça-feira (10), pedindo esclarecimentos sobre as condições de segurança oferecidas aos profissionais envolvidos nas coberturas.

Além da Record, outras emissoras como Globo, SBT e Band também serão notificadas. O NaTelinha entrou em contato com elas em busca de mais informações sobre os protocolos de segurança adotados para proteger seus jornalistas. As respostas estão disponíveis no final da reportagem.  

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“Eu acho que é muito grave as emissoras colocarem um cinegrafista e o piloto num helicóptero para que ele faça as tomadas, principalmente nos complexos - como nesse caso, que foi no Complexo de Israel - e esse helicóptero ter sido fuzilado com mais de 200 tiros", avalia Virginia Berriel, Coordenadora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro em conversa exclusiva ao NaTelinha.

E completa: “Graças a Deus, nenhum dos dois trabalhadores foi atingido, mas poderia ter sido. Então, é necessário que as empresas repensem e em a utilizar drones”.

Além do helicóptero, a Record Rio ou a utilizar também imagens captadas por motolinks nos programas Balanço Geral e Cidade Alerta. Esses jornalistas, por diversas vezes, circulam, sozinhos, por ruas e bairros dominados pelo tráfico.

“A CLT diz que o trabalhador deve exercer suas funções com total segurança e saúde no ambiente de trabalho”, alerta Virginia Berriel.

“Enviamos esse ofício ontem para a Record TV. É evidente que ela ainda não respondeu, mas tem um prazo de alguns dias para fazê-lo. E estamos enviando para todas as demais empresas. Vamos enviar para todas, inclusive para a Editora Globo, para que elas reflitam sobre a segurança de seus trabalhadores, dos seus jornalistas e das suas jornalistas.”

Virginia Berriel, Coordenadora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro

A coordenadora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro afirmou que, caso as emissoras de TV não revejam seus protocolos de segurança para jornalistas, será necessário acionar o Ministério Público do Trabalho para que acompanhe e realize uma fiscalização permanente sobre as condições desses profissionais em campo.

Sindicato notifica Record e pede explicações após helicóptero ser alvo de tiros pela 2ª vez

Entenda o que aconteceu: No dia 5 de junho, durante uma cobertura aérea na Zona Norte do Rio, um helicóptero da Record foi alvo de cerca de 200 disparos, segundo a emissora. Um dos tiros atingiu a fuselagem, mas ninguém se feriu. As imagens dos danos foram exibidas no Balanço Geral, e o apresentador Tino Júnior destacou que um dos projéteis quase atingiu o motor do veículo.

Esta é a segunda vez que uma aeronave da emissora é atingida por tiros durante uma cobertura policial. Em 2021, o piloto Darlan Santana foi baleado na panturrilha enquanto sobrevoava a região da Mangueira, na Zona Norte do Rio. Ele se recuperou, e o cinegrafista que o acompanhava não ficou ferido.

Confira as posições da Globo, Record, SBT e Band

  • Nota da Record:

"A Record Rio reforça seu compromisso inegociável com a segurança de seus profissionais. A emissora adota todas as medidas necessárias para garantir a integridade física e emocional de suas equipes, especialmente em coberturas de maior complexidade, como operações policiais com intensos tiroteios.  Todos os nossos repórteres, cinegrafistas e equipes de apoio atuam seguindo protocolos rigorosos de segurança, como o uso de coletes balísticos e com e técnico e orientação editorial constante para manter distância do fato. A busca por reportagens exclusivas e imagens impactantes jamais se sobrepõe ao cuidado com nossos colaboradores. A Record Rio reconhece a importância do jornalismo como instrumento de informação e serviço à sociedade, mas sempre com responsabilidade e respeito à vida dos que tornam esse trabalho possível".

  • Nota da Globo:

"A Globo não comenta assuntos ligados à segurança de seus profissionais exatamente por questões de segurança. Mas reitera que sempre age de forma responsável e ética em relação a suas equipes de reportagem".

  • Nota do SBT:

"O SBT Rio adota protocolos rigorosos para preservar a segurança de seus profissionais durante as coberturas em áreas de risco. Entre as medidas estabelecidas, destacamos: Equipamentos de proteção: as equipes utilizam coletes à prova de balas e seguem as orientações readas pelos policiais sobre pontos críticos e rotas de evacuação segura.  Cobertura apenas com o apoio da polícia: não realizamos entrada em áreas de conflito sem o acompanhamento das forças de segurança. Acompanhamento constante da redação: repórteres e cinegrafistas que estão em campo mantêm contato permanente com a chefia de reportagem, atualizando as condições de segurança e informando caso o cenário impeça a realização da cobertura. Cabe ressaltar que, em algumas situações, a cobertura pode ser suspensa por questões de segurança. Nossa intenção é sempre prezar pela integridade dos nossos profissionais, priorizando sempre a segurança diante de qualquer situação de risco".

  • Nota da Band:

"A Band Rio orienta todos os seus jornalistas (repórteres e cinegrafistas) a não subirem morros, nem se colocarem na linha de frente em confrontos, tampouco a acompanharem os policiais em meio às operações. Devem, sem dúvida alguma, manter distância suficiente para a segurança de toda a equipe, fazendo uma análise criteriosa do cenário para decidirem de que forma a reportagem será ou não realizada. Uma vida é muito mais importante do que uma matéria.

Além da orientação, a Band Rio também fornece equipamentos de segurança individual para seus jornalistas, como capacete e colete balístico nível 3 (resistentes a impactos de projéteis de arma de fogo, como fuzis, por exemplo, e amplamente utilizados por forças de segurança públicas e privadas)". 

Confira o posição do Sindicato dos Jornalistas do Rio

"Com relação à segurança dos jornalistas, o sindicato prima por essa questão. Para nós, é primordial a saúde e a segurança dos trabalhadores, dos jornalistas, das jornalistas no exercício da função — seja o jornalista, seja o repórter cinematográfico, seja o repórter fotográfico. É de extrema necessidade que as empresas forneçam os equipamentos de segurança adequados para coberturas externas, seja em grandes manifestações, seja nas favelas, seja em atos públicos.

As empresas têm não só que fornecer todos os equipamentos necessários, como também disponibilizar a segurança necessária para que esses trabalhadores — os repórteres, os repórteres cinematográficos e fotográficos — possam executar esta função adequadamente, sem correr nenhum risco.

E, evidentemente, no caso das comunidades, das favelas, a situação é muito mais delicada. De alguma forma, nós conhecemos e sabemos muito bem o quanto o Rio de Janeiro coloca em risco a vida das pessoas, inclusive daquelas que não são jornalistas — aquela pessoa que está num ônibus, num carro — e acontecem os incidentes, os acidentes, os crimes que acontecem.

E quanto mais um jornalista ou um cinegrafista que está aí num helicóptero, como aconteceu na semana ada — o helicóptero da Record ter sido fuzilado, e a bala atingiu apenas a cauda. E lá dentro do helicóptero estavam o piloto e o cinegrafista, e poderia ter atingido um desses dois trabalhadores.

Essa empresa, como qualquer outra — se fosse o helicóptero da TV Globo ou de outra emissora — a emissora tem que prover a segurança adequada. O Rio de Janeiro está em completa insegurança nas favelas, e principalmente nas coberturas aéreas.

Eu acho que é muito grave as emissoras colocarem um cinegrafista e o piloto num helicóptero para que ele faça as tomadas, principalmente nos complexos — como nesse caso, que foi no Complexo de Israel — e esse helicóptero ter sido fuzilado com mais de 200 tiros. Graças a Deus, nenhum dos dois trabalhadores foi atingido, mas poderia ter sido. Então, é necessário que as empresas repensem e em a utilizar drones. Existem drones seguros, que são pilotados e podem fazer essas coberturas.

Podem muito bem fazer essas coberturas se forem bem operados, e quem estiver pilotando agir de forma adequada.

Nosso sindicato emitiu um ofício ontem para a Record TV, porque temos cláusula na convenção de rádio e fusão e também na convenção para os jornalistas do impresso e revistas, que trata dessa questão da segurança — chamando atenção especialmente para as coberturas em grandes multidões, manifestações, favelas e comunidades. É necessário que as empresas disponibilizem segurança total, para que esse trabalhador não coloque sua vida em risco.

Então, de novo, eu falo aqui: as empresas precisam repensar a questão dessa cobertura com helicóptero, porque nós sabemos que, nas áreas de favela, existem o tráfico, a milícia — os marginais atiram mesmo. Estamos cansados disso, até helicóptero da polícia já foi alvejado. Já vimos casos em que ele levou bala e praticamente caiu. Isso não aconteceu apenas uma vez — imagine então com helicópteros de emissoras de televisão. Então, esse jornalista, esse cinegrafista, o próprio piloto, têm que estar em completa segurança.

Se as empresas não têm condição de oferecer 100% de segurança, elas vão ter que utilizar drones, pilotados, para fazer essa cobertura. Inclusive, temos cláusula na convenção que prevê essa questão.

Enviamos esse ofício ontem para a Record TV. É evidente que ela ainda não respondeu, mas tem um prazo de alguns dias para fazê-lo. E estamos enviando para todas as demais empresas. Vamos enviar para todas, inclusive para a Editora Globo, para que elas reflitam sobre a segurança de seus trabalhadores, dos seus jornalistas e das suas jornalistas

O sindicato está de olho, porque, acima do trabalho, acima da cobertura, está a vida de uma pessoa. E essa pessoa tem uma história, uma vida, uma família. Ela não pode colocar sua vida em risco em detrimento do trabalho. Isso não existe.

Inclusive, a CLT diz que o trabalhador deve exercer suas funções com total segurança e saúde no ambiente de trabalho. E, numa cobertura dessas, ele não está em completa segurança. E outra coisa: os motolinks, que muitas vezes nem jornalistas são, e as emissoras colocam esse cidadão numa moto para adentrar uma favela, sozinho, com o equipamento, para fazer uma cobertura. Isso não pode acontecer.

Novamente, estamos notificando as emissoras de televisão e alertando para a questão da cobertura e da segurança dos jornalistas e das jornalistas. Vamos cobrar.

Vamos agir como fizemos no ano ado: solicitamos reunião com todas as empresas, todas as emissoras de televisão, com o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho, a Defensoria Pública — e, acredite, só compareceram os órgãos de fiscalização. A Defensoria Pública, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego. Nenhuma empresa, nenhum sindicato patronal compareceu. Por quê? Porque não querem discutir esse assunto.

Então, também estou aqui para denunciar essas empresas: ou elas vão refletir e mudar seu posicionamento, ou teremos que solicitar ao Ministério Público do Trabalho que acompanhe e realize a fiscalização permanente desses trabalhadores em campo. O sindicato está atuante e muito preocupado com essa situação".

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