Marisa Maiô expõe muito mais da Globo e da TV atual do que se imagina
Marisa Maiô, criado por IA por Raony Phillips, viralizou com humor ousado e popular, evidenciando a desconexão da TV com as massas

Publicado em 08/06/2025 às 08:00
O programa de auditório Marisa Maiô, criado por IA pelo ator Raony Phillips, viralizou na última semana nas redes sociais. No vídeo, diversas situações bizarras são exibidas, e a apresentadora reage com espontaneidade e sarcasmo. A repercussão nas plataformas digitais ocorreu justamente porque o público encontrou nele um humor que já não vê mais na Globo, além do estilo popular de condução, que não tem mais espaço na TV.
Os dois ou três minutos de Marisa Maiô, criado pela IA do Google, são muito mais engraçados do que o caríssimo Tô Nessa, de Regina Casé, exibido na Globo no final do ano. O sucesso do projeto é a vitória da criatividade de Raony Phillips. Marisa Maiô evidencia a falta de ousadia e o excesso de conservadorismo no humor televisivo atual.
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As normas do politicamente correto que hoje regem a TV dificultariam a existência de programas vanguardistas como TV Pirata (1988-1992), as críticas políticas de Viva o Gordo (1981-1987) e Cabaré do Barata (1989-1990), ou até mesmo formatos mais tradicionais como Sai de Baixo (1996-2002) e Zorra Total (1999-2015). Isso precisa ser revisto.
Não tenho a intenção de defender o humor esdrúxulo de Leo Lins, mas propondo uma reflexão sobre a necessidade de flexibilizar filtros para que o humor autêntico, aquele que realmente tem graça, possa reencontrar espaço na televisão.
Aliás, atualmente, A Praça é Nossa vai além de um simples programa de TV— se tornou o símbolo da resistência da comédia genuína na plataforma.
TV precisa encontrar o caminho de Marisa Maiô
Outro ponto: A TV aberta precisa se comunicar com todos os públicos, mas esse é um desafio cada vez maior.
O crescimento do público que busca lazer nas big techs, somado à queda constante da audiência televisiva, evidencia a desconexão dos canais com as massas. Isso reflete a incompetência dos executivos de TV em compreender e dialogar com esse público em transformação.
Enquanto isso, Marisa Maiô se destaca ao falar diretamente com todos, mostrando que é possível criar um conteúdo ível e envolvente sem perder a ousadia e a identidade.
O fenômeno do personagem fez tanto sucesso no digital que, na última sexta-feira (06), a equipe do Melhor da Noite apresentou sua versão humana na Band—uma bela sacada, no tempo certo.
A televisão precisa ser comandada por quem conhece o Mercadão de Madureira, no Rio, as lojas do Brás, em São Paulo, ou o Oiapoque, em Belo Horizonte. Infelizmente, hoje, quem toma as decisões vive nas ruas do Leblon, no Jardim Botânico ou nos condomínios de Alphaville, distante da realidade da maioria.
Os executivos precisam compreender melhor o público. É urgente reconectar a TV com as massas.
RaonyPhillips
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